O escritor
Os dedos desfilavam no tablado, saltitando letras como crianças brincalhonas, e em frente aos olhos deixavam rastros de passeios e viagens tantas. Os sons estavam adormecidos e a mente fazia festa. Criatividade e improviso namoravam soltos em janelas e por entre frestas.
Algo dele se ausentava, e outros tantos tomavam lugar, lugarejos afastados já compunham seu luar, casarios nas montanhas, caças em matas, pescas em rios. Mulheres, homens, calores e frios... Não era mais apenas um ser humano, era da vida um andarilho. Escavava outras trilhas, outras almas e sentires, e na pele ele sentia outros sons, gostos e matizes
Poderia mudar de nome, de lugar, e mesmo de sexo. Era alma errante, nada o mantinha quieto. Um prazer surreal de descansar sua alma fazia dele teatral, pintor, artista, santo ou demônio. Nada deixava uma pista, do que ele seria após aquele ponto...
Enquanto as horas o engoliam, uma certeza bradava: ele era tantos em si, e ainda um outro em cada alma. O ser seguia sua sina, criando mundos na espera da próxima história, observava os detalhes descritos por cada hora, e os dedos brincalhões aos poucos vão envelhecendo, mas a alma dele era criança, dormiu a maior parte do tempo!
Até que um dia os dedos param, cansados. Enquanto as histórias ainda dão saltos, nos olhos daquele ancião. Quem sentar-se ao seu lado, e der-lhe um dedo de prosa, voará com ele aos outros mundos e sentirá na face os perfumes de todas as auroras.
Mas se finalmente ele partir, estejas certo: será bem quisto em todos os mundos que ele criou, por certo!
Pois um escritor jamais se apaga... Ele apenas assume um de seus personagens, e escreve ainda finais incríveis, nas criações dele, que jamais morrem.
Márcia Poesia de Sá
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